Ascensão de extremismos políticos

Por CGC

As ideologias políticas mais extremas podem parecer apelativas porque se apresentam como uma alternativa às ideologias que normalmente estão mais aceites e são mais representadas no espectro político. Contudo, é de notar com preocupação o continuado crescendo das mobilizações de extrema direita, quer na vida pública, quer na representação parlamentar.

A extrema direita desdobra-se em diversas formas de organização, objetivos distintos e têm formas diferentes de entender o que é democracia, autoritarismo, ou nativismo — a política de promoção dos interesses da população nativa de um país contra os dos imigrantes.

Os limites entre as diferentes ideologias de extrema direita são turvos, tal como as formas de participação política — das mais convencionais de partido, misturadas frequentemente com ativismos mais violentos

A extrema direita é caracterizada por uma “oposição anti-democrática à igualdade”, e associada com racismo, xenofobia, nacionalismo excludente, teorias da conspiração e autoritarismo — aspetos extremistas — bem como pela defesa de hierarquias sociais entre grupos — aspeto de direita. Todas ajudam a produzir inimigos alvos de violência através de um tipo de pensamento “nós contra eles”.

A investigação sobre estes temas sugere que pessoas com crenças de extrema direita mostram uma forma de pensar simplificada e pensamento rígido, o que faz com que tenham percepções da sociedade mais “preto e branco”. Têm uma tendência a buscar ordem e estrutura, e normalmente demonstram desejos de dominância de grupo, pelo que tendem a olhar para grupos sociais através de uma lente de superioridade-inferioridade, o que faz com que outros grupos, os “eles”, sejam vistos sempre de forma preconceituosa.

A investigação também sugere que são pessoas que tendem a evitar ambiguidade e incerteza e são obedientes à autoridade. Estudos também demonstram uma associação entre extrema direita e dogmatismo — normalmente caracterizado por inflexibilidade cognitiva, e dificuldade em processar ideias e informações opostas às suas, com uma tendência a desumanizar quem tenha opiniões diferentes..

Existem fatores psico-sociais que também ajudam a explicar estas tendências.

Por exemplo, experiências de perda significativa — como humilhação, rejeição ou privação — estão muito ligadas a atitudes de extrema direita. Estudos mostram que quanto maior o sofrimento psicológico pessoal percebido pelas pessoas, maior a tendência de se identificarem com um líder político e mais dispostas a usar violência contra os alvos desse líder. Estudos reportam que termos estas crenças aumenta a nossa importância e identidade social, e a necessidade de pertencer a grupos de pessoas que pensam igual.

Neste sentido podemos dizer que a mobilização de pessoas na extrema direita, provém de grupos de pessoas marginalizadas ou altamente carenciadas que usam estes ideais extremistas para transformar os seus ressentimentos em ação.

Grupos extremistas mobilizam-se quer no campo eleitoral quer nas ruas para definir agendas políticas e definir quem são os seus oponentes-alvo.

A mobilização de pessoas para a extrema direita pode ser explicada de duas formas — uma delas vista como “racional’’, onde a percepção de ameaça vem de inimigos percebidos, como imigrantes e outras minorias que possam pôr em causa determinada “forma de vida”. Outra explicação, aponta para fatores emocionais específicos e genderizados, como a violência. A sobrerepresentação de homens nestes movimentos não parece ser acompanhada de apoio emocional e camaradagem e alguns estudos mostram mesmo que está ligada a uma “perda de masculinidade percebida” dos próprios, que a tentam reconquistar através de ação coletiva e violência.


Carlos Costa