O que são testes de personalidade?
Por Sofia Coelho
Qualquer instrumento utilizado com o objetivo de avaliar a personalidade ou medir traços da personalidade. Estes podem ser testes nos quais xs participantes respondem a questões sobre a sua personalidade ou selecionam afirmações que os descrevem, ou podem ser testes projetivos que medem aspetos mais inconscientes da personalidade de quem participa (um exemplo é o teste de Rorschach).
Vejamos dois exemplos de testes não-projetivos muito utilizados.
NEO-PI-R
O NEO-PI-R é um questionário de personalidade que avalia os fatores do Five Factor Model (FFM). O FFM vê cinco dimensões como estruturas centrais da personalidade:
Neuroticismo (pessoas tranquilas/irritáveis, calmas/ansiosas);
Extroversão (pessoas faladoras/caladas, abertas/reservadas);
Abertura à Experiência (pessoas imaginativas/diretas);
Conscienciosidade (pessoas minuciosas/negligentes, perseverantes/desistentes);
Amabilidade (pessoas cooperantes/negativistas, moderadas/teimosas).
Este é composto por 240 afirmações que devem ser avaliadas numa escala de 1 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente), e está validado e traduzido para português.
Apesar de ser o inventário mais compreensivo e talvez melhor validado para medir as cinco dimensões primárias da personalidade, a investigação sugere que as escalas de domínio podem ser influenciadas pelas instruções dadas em estudos de simulação.
O teste de Myers-Briggs
O teste de Myers-Briggs (ou teste das 16 personalidades) tem por base as teorias não testadas de Carl Jung (sobre os Tipos Psicológicos) e foi desenvolvido por Katherine Briggs e Isabel Briggs Myers, que não tinham formação em Psicologia;
Este teste divide as pessoas em dois grandes tipos:
Percetivos (que se divide em pessoas que preferem sensações e pessoas que preferem intuições);
Julgadores (que se divide em pensadores e sentimentalistas);
Por sua vez, estes quatro tipos podem ser divididos em extrovertidos e introvertidos, fazendo um total de 16 tipos de personalidade
O Myers-Briggs é um dos testes mais utilizados no mundo e, de acordo com o site, é usado por >88% de empresas Fortune 500 em 115 países.
Apesar de ser muito conhecido, os próprios resultados do teste mostram que a maioria das pessoas se situa algures no meio de cada tipo e acaba por “ser empurrada” para um dos tipos;
Além disso, ~50% das pessoas chegam a um resultado diferente da segunda vez que fazem o teste. Isto porque os traços que o teste pretende medir mudam ao longo do tempo (por exemplo, podemos simpatizar ou não com pessoas dependendo do estado de espírito com que respondemos ao teste).
De facto, a maior parte da investigação que apoia o teste tem alguma ligação com a Fundação Myers-Briggs, levantando assim questões de independência, viés e conflito de interesses.
Apesar de se assemelhar a algumas teorias psicológicas, o Myers-Briggs é altamente criticado e não apoiado pela comunidade científica.
Em suma, algumas das falhas do teste incluem:
Baixa validade (não mede aquilo que se propõe medir, não tem poder de previsão e não tem itens generalizáveis à população)
Baixa fiabilidade (dá resultados diferentes para a mesma pessoa em ocasiões diferentes)
Medição de categorias não independentes (alguns traços considerados dicotómicos correlacionam-se);
Não é compreensiva (não mede o neuroticismo, por exemplo);
Uma das razões para o teste ser tão popular deve-se ao facto de as descrições abstratas e lisonjeadoras para muitos dos tipos de personalidade terem muita sobreposição e, como tal, várias pessoas encaixam-se nessas descrições;
Este teste tem sido comparado com pseudociência, horóscopos e videntes, dado que depende do lisonjeamento, do viés de confirmação e do Efeito de Forer ou Efeito de Barnum (quando as pessoas acreditam que descrições de personalidade se aplicam especificamente a si, apesar de serem descrições gerais e vagas que se aplicam a muita gente);
O teste pode ser usado por diversão mas não deve ser visto como algo validado cientificamente.