Psicoterapia Psicadélica

Por Coletivo Humanário

O que são psicoterapias psicadélicas?

A psicoterapia psicadélica consiste numa combinação de terapia psicológica e/ou terapia farmacológica — as mais convencionais — com substâncias psicadélicas, como parte de um processo psicoterapêutico. Uma das diferenças das terapias convencionais é que, em vez de tomar um medicamento todos os dias, as substâncias psicadélicas podem ser administradas — com dosagens específicas e supervisão — em uma ou poucas sessões.

São geralmente considerados tratamentos fisiologicamente seguros desde que em ambientes terapêuticos controlados — sendo que estudos científicos não sugerem riscos de potencial aditivo. Estes estudos clínicos são feitos com bastante segurança para controlar quaisquer riscos psicológicos que possam surgir, e de forma geral, as pessoas reportam experiências subjectivas muito significativas e com efeitos a longo termo.

Tendo em conta a crise de saúde mental generalizada pelo mundo,especialmente pós-Covid 19, muites profissionais acreditam que substâncias, como o LSD ou a psilocibina, podem ser uma ótima resposta terapêutica, alertando também para a importância de discutir esta informação de forma séria e pública, para que mais financiamentos, investigação e aceitação existam sobre os benefícios que os psicadélicos podem trazer à saúde mental.

Por exemplo, o governo Canadiano começou a disponibilizar a psilocibina a pessoas com doenças potencialmente fatais; enquanto que nos EUA, a FDA (Food and Drugs Administration) designou a psilocibina uma terapia inovadora no tratamento da depressão geral, e de depressões resistentes a tratamentos tradicionais.

Outro estudo de 2020 desenha até paralelos entre a chamada terapia psicadélica e a terapia cognitivo-comportamental, propondo que em contextos cuidadosamente controlados, o relaxamento de crenças induzido por psicadélicos pode facilitar o tratamento de certos distúrbios tradicionalmente tratados com terapia cognitivo-comportamental, como fobias.

Psicadélicos são substâncias psicoativas, que produzem mudanças nos nossos processos psicológicos — como a perceção, mood, pensamentos ou emoções. Podem também levar a estados alternativos de consciência, dependendo da quantidade da dose e potência da substância.

Existem vários tipos diferentes de psicadélicos. Alguns ocorrem naturalmente, em árvores, sementes, fungos ou folhas (como a ayahuasca, a Dimetiltriptamina — DMT — ou a Psilocibina dos cogumelos mágicos). Outros são produzidos em laboratórios (como o dietilamida do ácido lisérgico ou LSD, ou a Ketamina).

Psicadélico, vem da palavra Grega que significa “a mente a manifestar-se”.

Na verdade, encontram-se relatos de uso destas substâncias desde Grécia 410 aEC, mas também em várias outras culturas e populações indígenas por todo o mundo, desde as culturas Azteca e Maya aos povos nativos norte-americanos.

Quando povos colonizadores como os portugueses ou espanhóis, chegaram ao “novo mundo”, viram populações locais a fazer uso de diferentes substâncias que possuem propriedades capazes de alterar a consciência e induzir estados de êxtase, nomeadamente a psilocibina na América, ou a ayahuasca (uma bebida feita com um tipo de videiras e plantas enteógenas — ie, plantas capazes de alterar a consciência) no Amazonas.

O uso de psicadélicos esteve historicamente associado a rituais sagrados e religiosos há séculos, e, desde cedo, a Psicologia se interessou por estas substâncias e pelas suas ligações à nossa mente e saúde mental.

O 3,4-metilenodioximetanfetamina, vulgarmente conhecido como MDMA ou ecstasy, tem sido uma das substâncias com bastante interesse do ponto de vista de investigação científica e terapia. Embora não seja sempre considerado um psicadélico, mas antes um empatógeno — substância psicoativa capaz de gerar empatia, comunhão, unidade e intimidade — está do ponto de vista químico entre os estimulantes e os psicadélicos, e vários estudos têm-se focado nesta substância. Contudo, por ser um derivado de anfetaminas poderá possuir um risco diferente no que diz respeito a abuso.

Este ano, um artigo de revisão de literatura olhou para diferentes estudos sobre diversos diagnósticos como por exemplo, depressão, transtorno obssessivo-compulsivo, ou ansiedade social em adultes com autismo e sugeriu que quer o MDMA quer a Psilocibina poderão ser terapêuticas promissoras, nas populações certas e com a devida supervisão e apoio

Durante os anos 1950 e 1960, o LSD foi usado em combinação com psicoterapia, para ajudar pacientes a ter maior consciencialização de processos cognitivos e psicológicos, sendo também usado na gestão de algumas doenças, como a esquizofrenia ou dependência de álcool. A partir dos anos 70 nos EUA, foram categorizados como substâncias controladas, e fazer investigação tornou-se mais difícil. A partir dos anos 90 nos EUA, o governo permitiu a alguns cientistas estudar algumas destas substâncias e,mas recentemente, cada vez mais interesse se tem gerado, existindo cada vez mais debate sobre a descriminalização e o uso recreativo, mas também novos estudos a ser feitos em universidades prestigiadas como a Johns Hopkins ou a Universidade de Berkeley. Alguns dos estudos clínicos mais recentes juntam-se às conclusões de outros passados, apoiando o uso de psicadélicos como por exemplo a psilocibina, no tratamento de doenças como a depressão, stress pós-traumático ou ansiedade, e ansiedade em estados finais da vida.


Carlos Costa