A nossa perceção sobre a passagem do tempo

Por Coletivo Humanário

“O tempo passa a correr, aproveita enquanto és jovem.” Quantas vezes já ouvimos estas afirmações por parte das nossas mães, pais, avós, ou outras pessoas mais velhas à nossa volta?

Há, no senso comum, a ideia de que sentimos o tempo a passar mais rápido à medida que envelhecemos. Será mesmo?

A Psicologia tem chegado a alguns resultados interessantes. Diferentes estudos sugerem que a perceção do tempo não parece aumentar com a idade quando nos referimos a curta duração — dias, semanas, meses. Contudo, quando nos referimos a longa duração, por exemplo 10 anos, surge outro padrão: as pessoas mais velhas podem parecer sentir o tempo a passar mais rápido, pois recordamos a passagem do tempo de forma mais lenta na nossa infância e mais acelerada entre a adolescência e a idade adulta.

Enquanto adultes, e à medida que envelhecemos, as nossas vidas habitualmente são mais rotineiras, e experienciamos menos momentos desconhecidos. Daí que os nossos anos de juventude tenham maior representação na nossa memória autobiográfica (a memória dos episódios recordados ao longo da nossa vida).

Um estudo recente (2019), que examinou se a passagem do tempo acelera à medida que envelhecemos, não encontrou diferenças etárias nas avaliações de temporalidade em pessoas com menos de 75 anos. As pessoas com mais de 75 anos, contudo, avaliaram a passagem do tempo como sendo mais rápida à medida que envelhecemos. Contudo os melhores preditores do tempo poder parecer mais lento com os anos, parecem ser efeitos negativos, como tristeza, que se mostraram especialmente altos em pessoas idosas e que vivem em lares de terceira idade.

Os resultados apontam para que, à medida que as nossas funções cognitivas declinam, voltarmos a perceber o tempo como passando mais rápido outra vez, e esta mudança parece ser acompanhada por maiores sentimentos de alegria. Isto significa também que podemos tentar abrandar o tempo à medida que envelhecemos — mantendo o nosso cérebro ativo, continuando a desenvolver as nossas competências em cursos de terceira idade ou explorar novos locais, podem ajudar a alterar as nossas percepções do tempo.

De forma geral, ao contrário do que a sabedoria popular nos diz, estudos sistemáticos não apontam para mudanças na experiência da temporalidade à medida que envelhecemos, existindo bastante variabilidade nas respostas. Esta ideia ainda não está cientificamente estabelecida. As mudanças nas nossas funções cognitivas, tais como a atenção e memória, parecem ter um papel importante na perceção do tempo à medida que vamos envelhecendo — contudo ainda é um assunto que precisa de maior exploração.


Carlos Costa