A relação entre Arte, Empatia e Comportamento pró-social

Por Pedro Garcia-Marques

A Arte tem sido promovida como mecanismo para aprendermos, preocuparmo-nos e agirmos em situações que envolvem outras pessoas. No entanto, será que a literatura científica corrobora estas intervenções? Xionan Kou, Sara Koratah e Thalia R.Goldstein estudaram exaustivamente a relação entre Artes e comportamentos pró-sociais. Publicado em 2020, na revista Psychology of Aesthetics, Creativity, and the Arts, o artigo descreve uma relação positiva entre o envolvimento nas artes e a pró-socialidade, isto é, artistas ou pessoas que frequentam museus costumam apresentar comportamentos pró-sociais como o de doar ou fazer voluntariado.

As investigadoras analisaram as respostas de milhares de pessoas a questionários sobre traços pró-sociais (p. ex: Empatia) e comportamentos pró-sociais (p. ex: Voluntariado), e o tipo e género de artes consumidas ou criadas — visuais, performativas e literárias.

Criar ou consumir Arte? Qual está mais ligado a comportamentos pró-sociais?

De um modo geral, não existem diferenças entre o artista e o apreciador de arte. Quem cria ou consome arte apresenta traços e comportamentos pró-sociais, e vice-versa: quem ajuda o próximo estará inclinado a pintar um quadro ou ler um livro. Mais concretamente, quem consome arte está mais predisposto a apresentar comportamentos pró-sociais, como o voluntariado ou doação a instituições, do que quem cria arte.

Diferentes géneros de arte (visuais, performativas e literárias) estão relacionados com diferentes traços e comportamentos pró-sociais?

De um modo geral, o envolvimento com a arte está relacionado tanto com traços de personalidade pró-sociais como com comportamentos pró-sociais e é persistente com o tempo, independentemente do género artístico. Contudo, existem diferenças na criação de cada tipo de arte:

  • Artes visuais: Associadas com empatia e todos os comportamentos pró-sociais, Independentemente da corrente artística;

  • Artes literárias: Associada com traços de personalidade como empatia; pessoas que costumam escrever ficção, demonstram maior facilidade na capacidade de nos pôrmos no lugar do outro, ser empático e cuidar do próximo.

  • Artes performativas: quem atua costuma estar atento aos outros, apresentando comportamentos pró-sociais, com exceção da dança onde a associação é forte apenas para o comportamento de doação a instituições de caridade.

De que modo o compromisso com as Artes prediz comportamentos pró-sociais no futuro?

No geral, o consumo de artes, comparando com a criação de arte, é um maior preditor para futuros comportamentos pró-sociais.

Mas poderão os comportamentos pró-sociais também predizer envolvimento com as Artes no futuro?

Comportamentos pró-sociais foram associados a um maior consumo de Arte no futuro, mas não a uma maior criação.

O envolvimento com a arte pode reforçar comportamentos cívicos e pró-sociais, como o de ajudar o próximo, através de uma reflexão intencional de cada um. Mais especificamente, parece que é através do consumo de arte e não da criação, que a ligação a comportamentos e traços pró-sociais é fortalecida.


Referências:

Kou, X., Konrath, S., & Goldstein, T. R. (2019). The relationship among different types of arts engagement, empathy, and prosocial behavior. Psychology of Aesthetics, Creativity, and the Arts.

Tay, L., Pawelski, J. O., & Keith, M. G. (2018). The role of the arts and humanities in human flourishing: A conceptual model. The Journal of Positive Psychology, 13, 215–225.

Carlos Costa