A sustentabilidade depende de todxs e de cada umx
Por Helena Bento
Os problemas ambientais não são uma novidade. Diariamente lemos e ouvimos sobre poluição, práticas ambientais e sustentabilidade. Mas é importante dar um passo atrás e salientar que os problemas ambientais advêm do comportamento humano. O cerne reside de como nos comportamos face ao meio ambiente. Ambiente: o problema não és tu, somos nós!
Estar a par e preocupadx com este tema é o primeiro passo. Por exemplo, sobre o aquecimento global, cerca de metade dxs cidadãxs Americanos revelaram estar preocupadxs ou alarmadxs com este problema. Porém a informação e atenção dada aos problemas ambientais não significa que sejam tomadas ações para os combater. Mas como conseguir mudança?
A mudança de comportamento é um grande desafio, porém, não é impossível. Investigação em psicologia sugere que somos permeáveis a tomar comportamentos mais sustentáveis. Além da vontade individual, é através das práticas governamentais, de educação, de instituições e empresas que a mudança pode ser conduzida. Uma vez que as nossas escolhas são conduzidas e determinadas pelo contexto e opções disponíveis. Um modelo económico que olha para os recursos do planeta como inesgotáveis é insustentável. Desta forma, cabe às diversas instituições e quem as lidera inovar. Criar soluções melhores, ao invés de minimizar o impacto das existentes, pois “menos mau”, não significa “bom”.
Existem diversos factores do ponto de vista psicológico que dificultam a mudança. Xs investigadores Amel, Manning, Scott e Koger, abordam num artigo publicado na revista Science, em 2017 alguns destes fatores:
Somos avessxs à mudança:
A mudança pressupõe ter um comportamento diferente, e é humanamente desconfortável fazer algo que é desconhecido, e que pode implicar perder algo adquirido. Quão dispostxs estamos a abdicar de ter um transporte próprio? Ou deixar de viajar de avião para tornar as distâncias mais curtas e rápidas? Além disso, fazer as coisas de forma diferente do que estamos habituados pode fazer-nos sentir intimidadxs, e incompetentes, algo que tentamos evitar pelo desconforto que nos faz sentir.
O mundo como o conhecemos:
O mundo como o conhecemos é industrializado, urbanizado e dependente de tecnologias e por consequência existe uma menor conexão e proximidade com a natureza. Ao estarmos mais afastadxs e desconectadxs do funcionamento e importância do ecossistema e recursos ambientais, mais dificilmente adequamos o nosso comportamento para minimizar a sua degradação. A inclusão de mais elementos da natureza nas zonas urbanas, é uma prática que pretende promover essa proximidade, conexão e compreensão da natureza.
Necessidade de pertença:
Viver em sociedade significa estar enquadradx e ser aceite pelos demais. Ter comportamentos diferentes da maioria pode causar algum atrito social. Existem normas sociais instituídas que quando quebradas causam desconforto e receio de desaprovação. Antes de algo ser instituído e aceite, pode ser visto como estranho, desadequado e sem sentido. Por exemplo, há poucos anos, genericamente utilizávamos sacos plásticos não reutilizáveis, a mudança podia parecer difícil, hoje é norma social usar sacos de multi utilização. Hoje ter o comportamento de outrora é socialmente desadequado.
O problema parece estar longe:
Psicologicamente o problema é sentido ainda como algo distante. O facto de não sentirmos um impacto imediato diminui a sensação de desconforto e leva-nos a agir menos. Mesmo sabendo que dia-a-dia o ambiente se debilita, temos em mente que amanhã quando acordarmos o mundo continuará como o conhecemos hoje.
Subestimamos o poder individual:
Ao fazermos escolhas que nos beneficiam individualmente penalizamos o bem-estar comum. “Tomar um banho mais demorado, não vai fazer diferença ao mundo” este é muitas vezes o pensamento, mas a ação de cada umx de nós multiplicada pelos milhões que somos, é a prova de como todo o gesto tem impacto.
Os atritos psicológicos que dificultam a mudança são imensos, e cabe à psicologia compreendê-los e ajudar a contorná-los na construção de uma realidade mais sustentável.
Referências
Amel, E., Manning, C., Scott, B., & Koger, S. (2017). Beyond the roots of human inaction: Fostering collective effort toward ecosystem conservation. Science, 356, 275–279.