Como é que eu vou ser lembradx?

Quando a conservação ambiental é o nosso legado

Por Coletivo Humanário

Há décadas que investigadorxs, políticos, cientistas e figuras públicas têm vindo a apelar à importância de agir face às mudanças climáticas que nos assolam, contudo continuamos com demasiado por fazer.

Um estudo de 2015 na revista Psychological Science reflete sobre como alguns obstáculos psicológicos são um entrave ao progresso e ação quando discutimos esses assuntos.

Xs autorxs referem que inação sobre estas matérias é considerada um desinvestimento no futuro, e que esse desinvestimento pode dever-se parcialmente à distância temporal e social (percebidas) entre o agora, e o momento futuro, quando as consequências mais severas das alterações climáticas se farão sentir. Este sentimento de distância pode promover um “desconto” inter-temporal e inter-pessoal (1,2,3) e assim criar uma barreira psicológica à ação pró-ambiental. Dito por miúdos, achamos que é um problema longínquo e portanto não é um problema para hoje, nem para nós. Contudo é exatamente por existir este espaço temporal que é tão importante agir agora. As nossas decisões de hoje determinam o futuro de outrxs amanhã, seja para melhor ou pior.

Alguma investigação sugere que uma das formas de motivação que as pessoas podem ter para se projetar no futuro, é através dos seus legados pessoais. Os legados, podem ajudar a superar barreiras psicológicas e entraves à ação ambiental e inter-geracional (3). O interesse em passar conhecimentos, habilidades ou recursos a outras pessoas no futuro, pode ter um papel motivador no que diz respeito à ação ambiental a longo prazo. Com isto em mente, xs autorxs do estudo olham para as motivações face ao nosso legado como algo que pode ser aproveitado para promover comportamentos pró-ambientais, tendo ainda em conta investigação que sugere que as atitudes face às alterações climáticas são maleáveis e influenciadas por factores psicológicos. (4,5,6)

Num primeiro estudo piloto, os resultados estabelecem uma relação robusta entre motivação de legado e participação ambiental. As pessoas que reportam ter maior motivação de legado mostram crenças ambientais mais fortes, e intenções comportamentais maiores do que quando comparadas com pessoas que não são motivadxs pelo legado que deixarão a gerações futuras.

Xs participantes com maior motivação de legado, também doaram mais a organizações ambientais sem fins lucrativos.

Xs investigadorxs mostram também que, se as motivações em deixar para trás um legado positivo estão presentes antes de uma hipotética troca de lugar entre o “indivíduo no presente” e “outrx (alguém) no futuro”, parece que o comportamento muda favoravelmente em direção ao bem estar de outrxs no futuro.

Estudos idênticos sugerem que este impacto na mudança comportamental somente se dá em contextos nos quais as pessoas sentem algum tipo de controlo sobre as consequências esperadas.

Estes resultados indicam como motivações para deixar um legado podem influenciar comportamentos pró-ambientais, quer por contrariar a barreira psicológica causada pelo desconto intertemporal e interpessoal, quer, talvez, por focar as pessoas no futuro impacto das suas próprias ações. Os resultados indicam ainda que estas motivações de legado importam para a ação pró-ambiental, envolvendo trocas entre consumo e bem-estar do agora vs do futuro. Estas conclusões podem ser importantes para criarmos intervenções e programas para envolver mais pessoas em termos de políticas públicas e desenvolvermos novas formas de discursos pró sustentabilidade. (7,8)

Referências

  1. How Will I Be Remembered? Conserving the Environment for the Sake of One’s Legacy Lisa Zaval1,2,3, Ezra M. Markowitz2,4,5, and Elke U. Weber1,2,3

  2. Gifford, R. (2011). The dragons of inaction: Psychological barriers that limit climate change mitigation and adaptation. American Psychologist, 66, 290–302.

  3. Markowitz, E. M., & Shariff, A. F. (2012). Climate change and moral judgement. Nature Climate Change, 2, 243–247

  4. Spence, A., Poortinga, W., & Pidgeon, N. (2012). The psychological distance of climate change. Risk Analysis, 32, 957–972.

  5. Weber, E. U., & Stern, P. C. (2011). Public understanding of climate change in the United States. American Psychologist, 66, 315–328.

  6. Wade-Benzoni, Tost, Hernandez, & Larrick, 2012

  7. Weber & Johnson, 2009; Zaval, Keenan, Johnson, & Weber, 2014

  8. Bandura, A. (2007). Impeding ecological sustainability through selective moral disengagement. International Journal of Innovation and Sustainable Development, 2, 8–35.

  9. Moser, S. C., & Dilling, L. (2011). Communicating climate change: Closing the science-action gap. In J. S. Dryzek, R. B. Norgaard, & D. Schlosberg (Eds.), The Oxford handbook of climate change and society (pp. 161–174). Oxford, England: Oxford University Press.

Carlos Costa