Orgulho LGBTQ+

Por Coletivo Humanário

O Orgulho é importante porque é a vivência e a promoção da auto-afirmação de identidades e dignidade, da luta pela igualdade em termos de direitos e leis, mas também Orgulho em ser-se visível, em viver face ao estigma, preconceito e à vergonha que ainda são impostos de diferentes formas.

Viver abertamente como LGBTQ+ implica perceber que se pode viver com diferentes graus de discriminação: de bullying ou dificuldades no acesso ao emprego, saúde e habitação, passando por outras formas de violência psicológica e física, que podem incluir a morte.

Estes níveis de discriminação diferem conforme outras identidades ou características que temos, como por exemplo a cor da nossa pele, a nossa classe social ou que religião possamos ter. Chamamos a isto interseccionalidade, quando os efeitos de múltiplas formas de discriminação — LGBTQ+fobia, sexismo, islamofobia ou discriminação de classe, por exemplo — se sobrepõem e intersectam, afetando as experiências de grupos de pessoas marginalizadas.

A expressão do Orgulho pode assumir diversas formas, desde marchas e paradas a sessões de filmes e debates. É sempre um momento de celebração de grupos/pessoas marginalizadas por definições muito rígidas do que é ser-se homem ou mulher e como se comportar como tal.

Celebra-se habitualmente durante este mês, assinalando a Revolta de Stonewall (1969), onde no dia 28 de Junho a comunidade no bar Stonewall Inn, em Nova Iorque, rebelou-se contra a injustiça e violência policial que assolava os bares gay. Embora este seja considerado o momento chave que desencadeia o movimento LGBTQ+, alguns anos antes, em São Francisco, a revolta na Cafetaria Compton (1966) tinha acontecido como resposta ao assédio e perseguição policial constante de pessoas LGBTQ+, principalmente drag queens e mulheres trans–muitas das quais negras–que ao viver situações de pobreza e, devido à discriminação social, eram empurradas para trabalhos precários, como a prostituição, tornando-se ainda um alvo maior de violência policial. Não havendo muitos locais seguros onde pessoas LGBTQ+ pudessem congregar, por serem consideradas criminosas e ilegais, ambas as revoltas abriram portas para que um movimento crescesse, alianças fossem formadas e respeito e tratamento igual não fosse somente pedido, mas sim exigido.

Em Portugal, a homossexualidade foi descriminalizada apenas em 1982. Durante quase 100 anos, o código penal punia pessoas através de internamento ou prisão e, durante a ditadura, pessoas LGBTQ+ foram perseguidas e consideradas um perigo moral. Desde então muito mudou, quer nas leis quer nas atitudes e preconceitos, em grande maioria, devido ao trabalho de ativistas que trazem estas discussões para a esfera pública celebrando a diversidade perante a adversidade. O Orgulho é isso.

Se é verdade que a psicologia e a psiquiatria têm tido um papel nem sempre exemplar, principalmente na patologização de pessoas e vidas LGBTQ+ também é importante lembrar que a luta dentro destas disciplinas se tem feito ver e ouvir cada vez mais nas últimas décadas, inicialmente nas correntes críticas, até à psicologia mainstream, e com cada vez mais profissionais de saúde que ao longo da história foram agindo de forma ética, resistindo preconceitos sociais, e ajudando pessoas e comunidades.

Feliz dia do Orgulho, todos os dias.

Carlos Costa