Para além de Empatia: Dar e receber diferentes perspectivas pode ser a solução para conflitos

Por Pedro Garcia-Marques

Como podemos mudar os preconceitos e crenças de membros de grupos envolvidos numa situação de conflito? Através de uma interação positiva com um membro do grupo “rival”, indica o estudo de duas investigadoras do MIT, publicado no Journal of Experimental Social Psychology em 2012.

Os maiores obstáculos à resolução de conflitos são preconceitos intransigentes que afetam os membros de ambos os lados de um conflito.

De modo a desconstruir estes preconceitos, milhares de programas de diálogo tem sido aplicados, no entanto, esta abordagem nem sempre tem tido o resultado desejado. Estes programas que assentam no conceito de Empatia, isto é, colocarmo-nos no lugar da outra pessoa, de facto, parecem trazer alguns resultados positivos, porém apenas para membros dos grupos dominantes, que detém maior poder e não tendem a ser marginalizados. Frequentemente, os membros de grupos menos dominantes reagem negativamente quando lhes é pedido para considerar a perspetiva do outro grupo. As intervenções que parecem mudar as crenças do grupo não dominante, são aquelas que dão a estes a possibilidade de darem a sua perspetiva e sentirem que foram escutados.

Emile G. Bruneau e Rebecca Saxe realizaram dois estudos para descodificar a eficácia dos programas de diálogo entre grupos que se encontram em conflito. O primeiro envolveu imigrantes mexicanos, e americanos brancos no Arizona, e o segundo, israelitas e palestinianos no Médio Oriente. Neste contexto de conflito entre grupos, os imigrantes mexicanos e os palestinianos correspondem aos grupos mais marginalizados e com menor poder. As investigadoras dividiram os participantes em grupos de dois, cada um de um grupo “rival”. Os participantes interagiram através de vídeo e texto, cara-a-cara. Um dos participantes deu a sua perspetiva, escrevendo um breve texto sobre as suas dificuldades de vida na sociedade. E o segundo participante recebeu e sumariou a perspetiva do primeiro (sem revelar os próprios pensamentos e crenças).

Através da comparação de atitudes perante o grupo rival, antes e depois da interação, as investigadoras analisaram os efeitos da interação nas atitudes para com o grupo “rival. As atitudes das pessoas dos grupos dominantes (Americanos brancos e Israelitas) tiveram uma mudança mais positiva depois de receberem a perspetiva do outro e terem de se “pôr na sua pele” para a sumariar. Pelo contrário, as pessoas dos grupos mais marginalizados e com menor poder (imigrantes Mexicanos e Palestinianos no Médio Oriente), tiveram uma mudança de atitude mais pronunciada quando tiveram a possibilidade de dar a sua perspetiva.

No entanto, quando os participantes escreveram a sua perspetiva mas não tiveram a possibilidade de interagir com elementos do outro grupo, não existiu qualquer mudança de atitude. Portanto, é fundamental que a pessoa do grupo mais marginalizado sinta que foi escutada quando explica a sua perspetiva e que a pessoa do grupo dominante se possa pôr na pele de alguém com quem interagiu.

Resumindo, para aproximar pessoas de grupos em conflito, uma simples interação num ambiente seguro e isento de julgamentos, no qual é dada a palavra à pessoa que pertence ao grupo com menos poder, e fazendo com que esta se sinta verdadeiramente escutada pelo outro, poderá ser uma simples solução para melhorar as relações entre grupos onde existem assimetrias de poder, e ajudar a solucionar conflitos.


Referências

Bruneau, E.G., & Saxe, R. (2012) The Power of Being Heard: The Benefits of ‘Perspective-Giving’ in the Context of Intergroup Conflict. The Journal of Experimental Psychology 48(4), 855–866.

Carlos Costa