Preconceito Implícito: Estabilidade e Mudança
Por Helena Bento
Será possível criar contextos sociais e laborais que promovam menos discriminação?
Tirar conclusões de forma precipitada e errada faz parte da natureza humana.
Assim, fazemos julgamentos, associamos e generalizamos características e ideias a grupos de pessoas: criamos estereótipos. Criamos estereótipos sobre profissões, nacionalidades, ideias de “raça” e etnicidade. Quando esse estereótipo é negativo aí falamos de preconceito.
Os preconceitos, são representações negativas, enraizadas, e difíceis de mudar. Preconceitos implícitos continuam a estar presentes nas nossas mentes, mesmo que de forma inconsciente e indesejada.
São ideias que podemos não verbalizar e defender, mas que de forma subtil e inconsciente continuam à flor da pele e emergem. Isto importa porque quão maior o nível de preconceito, maior a probabilidade de agirmos de forma discriminatória. Muita da investigação em Psicologia tem demonstrado que este tipo de pensamentos e ideias estão tão enraizados que dificilmente se conseguem mudar(*).
Porém, num artigo publicado em 2019, na revista científica Psychological Science, Vuletich e Payne, mostraram uma visão diferente sobre o preconceito implícito.
Os investigadores reanalisaram os dados de um estudo de 2016, no qual estereótipos raciais em 18 campus universitários norte-americanos foram medidos antes e depois de uma intervenção para reduzir o preconceito racial. Este estudo tinha inicialmente mostrado um pequeno efeito da intervenção na redução de estereótipos.
Mas, nesta reanálise, focaram as mudanças nos níveis individuais de preconceito e as características dos campus universitários que estão associadas a diferentes níveis de estereótipos e preconceito.
Os autores concluíram que demonstramos diferentes níveis de preconceito implícito ao longo do tempo, e que estas avaliações negativas poderão não ser tão rígidas e inalteráveis quanto se pensava.
Vuletich e Payne sugerem que o nível de preconceito das pessoas depende das características do contexto e do ambiente, e não necessariamente só do posicionamento e pensamentos de cada um.
Mas quais foram as características existentes nos campus estudados que demonstraram estar associados a maior nível preconceito? Quaisquer características associadas a desigualdades estruturais parecem contribuir para maiores níveis de preconceito.
Primeiro, a existência de monumentos, como estátuas, simbolicamente associados à escravatura, que representam a exibição pública de desigualdade estrutural, facilitam a recordação do estereótipo racial e promovem uma generalização negativa sobre pessoas negras.
Segundo, existirem menos estudantes e professores negros. A falta de exposição à diversidade e a falta de representatividade contribuem para o aumento de preconceitos.
Por último, universidades que tinham tido menos estudantes com mobilidade social também foram locais associados a uma maior estabilidade de preconceito ao longo do tempo. É importante referir que o número desproporcional de pessoas de grupos sub-representados com estatuto socioeconómico mais baixo, significa que uma baixa mobilidade social afeta mais os membros desses mesmos grupos.
Parece que os preconceitos podem ser atenuados ou fortalecidos dependendo de alguns fatores externos. Ainda que existam diferenças individuais, somos suscetíveis ao ambiente que nos rodeia. Intervir no meio a que estamos expostos é uma estratégia que pode ser mais eficaz na diminuição de preconceitos do que tentar mudar as ideias que cada um tem.
Portanto, sim, parece ser possível criar contextos sociais e laborais que promovam menos discriminação.
Contextos que em vez de enfatizar desigualdades estruturais as atenuam, podem diminuir preconceitos. Cidades, empresas, escolas, e outros locais que tenham maior diversidade de pessoas, que promovam maior igualdade em processos de mobilidade social, e que celebrem a história de diferentes grupos, sem objetos que relembrem passados de opressão, podem contribuir para a mudança de mentalidades e diminuição de preconceitos.
Estas medidas podem assim ajudar a mudar os preconceitos estruturais e sistémicos, enquanto que os preconceitos individuais podem ser contrariados em situações mais específicas, como por exemplo num processo de recrutamento, em que possamos questionar o estereótipo e afirmar valores de igualdade para todos.
Referências
Vuletich, H. A., & Payne, B. K. (2019). Stability and change in implicit bias. Psychological Science, 30(6), 854–862.
(*) Lai, C. K., Skinner, A. L., Cooley, E., Murrar, S., Brauer, M., Devos, T., … & Simon, S. (2016). Reducing implicit racial preferences: II. Intervention effectiveness across time. Journal of Experimental Psychology: General, 145(8), 1001.