Parar para pensar ajuda a reduzir a partilha de notícias falsas? Um estudo recente sugere que sim.

Por Coletivo Humanário

Um dos piores aspectos das redes sociais é serem grandes centros de propagação de conteúdos falsos. Alguns estudos sugerem que a repetição não só fomenta a partilha de conteúdos falsos (2), como aumenta crenças de que informação falsa é verdadeira (1) e reduz crenças de que é pouco ético partilhar informação falsa (2).

Numa experiência online, xs participantes que pararam para explicar o porquê de acharem que uma manchete era verdadeira ou falsa, revelaram menor probabilidade de partilhar informação falsa, quando comparadxs a outrxs participantes que não “pararam para pensar.”

Os resultados indicam que uma “fricção” antes da partilha — como pausar para pensar — pode aumentar a qualidade da informação que é partilhada em redes sociais.

Oferecer uma explicação sobre a veracidade ou falsidade da manchete que leram pareceu reduzir as intenções de partilha, quer para manchetes novas ou repetidas, embora o decréscimo tenha sido maior para manchetes que foram vistas pela primeira vez — o que ilustra o papel da repetição no sentimento de veracidade e revela que pode ser importante alterar como as pessoas processam um post de redes sociais da primeira vez.

Existem múltiplas razões pelas quais esta intervenção poderá ter tido efeito, como por exemplo:

  • Dar uma explicação para algo ajuda-nos a perceber as lacunas entre o que sabemos e o que achamos que sabemos (3) podendo ajudar a melhorar processos de aprendizagem (4)

  • Dar uma explicação ajuda-nos a conectar a tarefa que temos em mãos com o nosso conhecimento prévio (5), neste caso, explicar porque é que a manchete é falsa ou verdadeira pode fazer-nos consultar conhecimento prévio e perceber que uma manchete é falsa

  • O pedido de explicação pode ajudar-nos a abrandar e a pensar mais a fundo em vez de aceitar e responder de forma instintiva (partilhando informação falsa)

  • A explicação pode também ativar uma norma de precisão que fez com que xs participantes ficassem menos motivadxs a partilhar informação falsa. As pessoas podem ter diversas motivações para partilhar conteúdos em social media — para informar, entreter, ou sinalizar a sua pertença a determinado grupo (6, 7) — mas pensar sobre a precisão da manchete pode ter causado maior valorização da precisão do que do entretenimento.


Referências

  1. Fazio, L. K. (2020). Pausing to consider why a headline is true or false can help reduce the sharing of false news. Harvard Kennedy School (HKS) Misinformation Review. https://doi.org/10.37016/mr-2020-009

  2. Fazio, L. K., Brashier, N. M., Payne, B. K., & Marsh, E. J. (2015). Knowledge does not protect against illusory truth. Journal of Experimental Psychology: General, 144(5), 993–1002. doi:10.1037/xge0000098

  3. Effron, D. A., & Raj, M. (2019). Misinformation and morality: encountering fake-news headlines makes them seem less unethical to publish and share. Psychological Science, 31, 75–87. doi:10.1177/0956797619887896

  4. Rozenblit, L., & Keil, F. (2002). The misunderstood limits of folk science: An illusion of explanatory depth. Cognitive science, 26(5), 521–562. doi:10.1207/s15516709cog2605_1

  5. Dunlosky, J., Rawson, K. A., Marsh, E. J., Nathan, M. J., & Willingham, D. T. (2013). Improving students’ learning with effective learning techniques promising directions from cognitive and educational psychology. Psychological Science in the Public Interest, 14(1), 4–58. doi:10.1177/1529 i 00612453266

  6. Brady, W. J., Wills, J. A., Jost, J. T., Tucker, J. A., & Van Bavel, J. J. (2017). Emotion shapes the diffusion of moralized content in social networks. Proceedings of the National Academy of Sciences, 114(28), 7313–7318. doi:10.1073/pnas.1618923114

  7. Metaxas, P., Mustafaraj, E., Wong, K., Zeng, L., O’Keefe, M., & Finn, S. (2015). What do retweets indicate? Results from user survey and meta-review of research.Paper presented at the Ninth International AAAI Conference on Web and Social Media.

Carlos Costa