(Porque é que) gostamos de terror?
Por Coletivo Humanário
No cinema é o único género cinematográfico especificamente criado para nos fazer sentir medo. Fora do cinema encontramos outras formas recreativas de experienciar terror, como casas assombradas ou jogos de vídeo.
As nossas respostas podem ser desde tremores, arrepios, suores, gritos, cobrir os olhos, sentirmo-nos paralisadxs ou com temperatura alterada.
O terror tem impactos tanto físicos, por exemplo mudanças no nosso batimento cardíaco e resposta galvânica da pele, como psíquicos, por exemplo ansiedade, medo, empatia, ou nojo.
Mas se estas respostas não são normalmente consideradas agradáveis, então, porque é que usamos o terror como experiência recreativa? Este enigma é chamado “paradoxo do horror.”
Vários estudos e teorias têm procurado explicações, e olham para o terror como um género que oferece uma oportunidade de:
Confrontar os nossos desejos reprimidos.
Envolvermo-nos em “masoquismo benigno” — o gostarmos de emoções negativas por sabermos que estamos em segurança e nada nos vai acontecer.
Satisfazer uma curiosidade sobre monstros e enredos de suspense.
Várixs investigadores argumentam que nós, humanos, possuímos uma curiosidade mórbida para muitos dos temas abordados: o paranormal, a violência ou mentes criminosas.
Além disso, estudos recentes sugerem que o terror pode constituir uma forma lúdica de entretenimento, em que nos envolvemos com cenários de ameaça, mas num contexto seguro.
Um estudo de 2021, sugere que a ficção de terror pode oferecer uma oportunidade de praticar estratégias de regulação emocional que podem ser depois aplicadas a situações da vida real.
Este estudo procurou por uma tipologia para xs fans de terror, e quis investigar quais os benefícios psicológicos percebidos para cada tipo de fã.
Viciades em Adrenalina: aquelas pessoas que adoram a experiência intensa do terror lúdico. Sentem medo mas gostam dessas sensações. Estudos passados também identificaram este tipo de pessoa como os principais fãs de terror.
White Knuckles: aquelas pessoas que adoram terror lúdico, mas avaliam-no de forma diferente das pessoas viciadas em adrenalina. Sentem medo mas não gostam das sensações provocadas e podem, por exemplo, ter pesadelos. Estudos passados identificaram estas pessoas, embora com menor grau comparativamente ao primeiro tipo.
Dark Coper: Estas pessoas parecem não só gostar das experiências de terror, mas também parecem sentir que aprendem algo sobre si mesmas, e por isso sentem que se desenvolveram como pessoas.
Ainda há bastante a descobrir sobre esta última dimensão/tipologia de fã, mas autorxs adiantam que é possível que a auto-reflexão que ocorre após uma experiência de terror seja diferente: White Knuckles parecem aprender sobre os limites dos seus medos, enquanto que Dark Copers parecem mostrar entusiasmo mas também estratégias de sobrevivência (coping) existencial
Por exemplo, estxs White Knuckles seriam pessoas com tendência a concordar mais com frases como “tenho pesadelos depois de ver filmes de terror”, e outras mais centradas nos efeitos psicológicos negativos de ver filmes de terror, como ter pesadelos, suores e medo.
Já para Viciadxs em Adrenalina seriam pessoas com tendência a concordar com frases como “sentir medo faz-me sentir vivo”, e outras mais centradas no prazer do suspense e do medo .
As pessoas que encaixam na tipologia Dark Copers parecem mais centradxs na natureza extrema dos filmes de terror, e como isso se relaciona com a nossa vida pessoal, particularmente, em como podem através do terror, encontrar mecanismos e formas de lidar com o mundo real à nossa volta.
Xs autores do estudo argumentam que o terror pode ser de particular atração para pessoas com elevados níveis de ansiedade, e poderá ter algum valor terapêutico sob a forma de resiliência psicológica, e regulação emocional (Christensen, 2021)
O envolvimento com diferentes simulações de ameaça e terror ficcional parece conferir diferentes benefícios a diferentes pessoas. Para alguns de nós oferece prazer e entusiasmo, para outrxs, está mais relacionado com uma auto-aprendizagem e desenvolvimento.