Relações abertas e fechadas, onde mora a felicidade?

Por Helena Bento

De certeza que já recebeu vários emails e sms sobre o dia de São Valentim, foi bombardeadx com promoções de chocolates e flores, mas acreditamos que ainda não leu muito sobre relações amorosas e dinâmicas/acordos sexuais!

O interesse em manter relações sexuais sem que tenhamos uma relação amorosa ou emocional, é distinta a cada um de nós.

Podemos demonstrar uma maior ou menor vontade em ter sexo casual, o que se define como uma maior ou menor sociosexualidade.

Mas será que ter uma maior disposição para o sexo casual é um entrave nas relações românticas?

Diversos estudos sugerem que uma maior disposição para ter sexo casual está associado a ter relações extraconjugais. Porém há vários fatores a ter em conta quando falamos de relações amorosas.

Uma investigação conduzida em Portugal pelos investigadores David Rodrigues, Diniz Lopes e Veronica Smith, publicada na revista The Journal of Sex Research em 2016, traz uma nova visão.

Este estudo questiona o papel do compromisso e do nível de satisfação em relações heterossexuais. Terão estes dois aspectos algum peso sobre a dita infidelidade?

Num contexto em que maioritariamente as relações amorosas são monogâmicas, ou seja, numa relação romântica e exclusiva entre duas pessoas, o sexo extraconjugal considera-se uma infidelidade ou traição. Por ser algo não consentido entre um casal monogâmico, é considerado um comportamento infiel.

Porém existe também outra perpectiva sobre o sexo extraconjugal numa relação de casal. O sexo extraconjugal não é considerado uma traição se for consentido por ambos os membros do casal.

Digamos que existem, pelo menos, dois tipos de relações. Relações abertas: relação em casal onde é aceite sexo extraconjugal e relações fechadas: relação em casal onde não é aceite sexo extraconjugal (*1).

Sociosexualidade, Infidelidade e Compromisso

Tal como em estudos anteriores, cerca de 20% dos participantes referiram ter tido sexo extraconjugal.

Nesta investigação, na qual foram questionados adultos em relações fechadas, os participantes que tinham uma maior disposição para sexo casual também reportavam maior ocorrência de sexo extraconjugal (infidelidade) e um nível de compromisso mais baixo.

Estes resultados sugerem que o nível de compromisso numa relação monogâmica ou fechada possa ser um fator chave associado a menor infidelidade.

Sociosexualidade, Qualidade da relação e Tipo de Relação

Será que estar numa relação aberta ou fechada influencia a opinião sobre sexo casual e qualidade da relação? Será a opinião dos homens diferente da das mulheres?

O género não revelou ser diferenciador, mas o tipo de relação dos participantes sim!

Participantes que estavam numa relação fechada tinham uma visão negativa sobre o sexo extraconjugal mas os que estavam numa relação aberta, não.

Mas será que as relações fechadas conduzem a uma maior satisfação? Apesar das conotações negativas que as relações abertas muitas vezes têm, socialmente, os níveis médios de satisfação e compromisso apurados parecem ser semelhantes em relações abertas e fechadas.

De um modo geral, uma sociosexualidade menos restrita (e, consequente, maior tendência para ter relações sexuais causuais) apenas pareceu afectar negativamente a satisfação e o nível de compromisso de relações fechadas. A razão para este padrão é provavelmente porque ter relações sexuais casuais não é compatível com a ideia de compromisso neste tipo de relações, mas será compatível com o acordo sexual noutros tipos de relações e, consequentemente, não violar a ideia de compromisso.

As diferentes formas de viver as relações sexuais são escolhas pessoais, escolhas entre casais e pessoas. Acima de tudo estar satisfeitx com as opções próprias e aceitar que existem diferentes possibilidades e formas de a viver é a visão mais humana possível.


Referências

Rodrigues, D., Lopes, D., & Smith, C. V. (2017). Caught in a “bad romance”? Reconsidering the negative association between sociosexuality and relationship functioning. The Journal of Sex Research, 54(9), 1118–1127.

(*1) Cohen, M. T. (2015). An Exploratory Study of Individuals in Non-traditional, Alternative Relationships: How “Open” Are We? Sexuality & Culture, 20(2), 295–315.

Carlos Costa